sábado, 22 de junho de 2013

AS AVES SAGRADAS.

AS PENAS SAGRADAS DO CANDOMBLÉ.



ÌYÉ ORÒ – AS PENAS SAGRADAS.

         Ìkódíde – Agbè – Àlùkò – Lékeléke: São as quatros penas sagradas de nossa religião, somente sendo utilizadas dentro da ritualística e nunca como um simples adorno. Elementos primordiais e indispensáveis dentro dos Ìgbèrè – Ritos Iniciáticos e de Passagens de qualquer divindade do panteão yorubá. Não existem penas semelhantes, são únicas em sua essência simbologia e significado, ou seja, são insubstituíveis. Dentro do Corpo Literário de Ifá são mencionadas nos mais diversos Oba Odú e seus Omo Odú.

Ø  KÓDÍDE ou ÌKÓÓDE: Trata-se de uma pena vermelha, extraída da cauda de um tipo de papagaio africano da espécie Psittacus erithacus conhecido popularmente por papagaio-cinzento, papagaio-do-Gabão ou papagaio-do-congo entre o povo yorubá é denominado de Odíde ou Odíderé Tornou-se Rei entre todas as aves, símbolo da fecundação, da menstruação, da gestação, representa o nascimento e o símbolo do poder feminino. Representação da realeza, honra e status, esta acima da simbologia do Adé – Coroa. Fixado a frente da cabeça, representa o processo iniciático e confirma os ritos de iniciação e/ou de passagem. É o pássaro de penas vermelhas, símbolo de (Vitória).



Ø  AGBÈ: É uma pena azul extraída da cauda da ave africana Turaco da família dos sophagidae Touraco porphyreolophus. Descritos nos mitos, como o pássaro que carregava a boa sorte e a riqueza para Olokun – Divindade dos Oceanos. Para que possa agir tem que ser utilizada em contrapartida com o Àlùkò. É o pássaro de penas azul, símbolo de (Bondade).


Ø  ÀLÙKÒ: É uma pena de cor púrpura (entre escarlate e violeta) extraída das asas da ave africana Turaco da família dos Musophagidae Touraco ruspolii. Descritos nos mitos, como o pássaro que carregava a boa sorte e a riqueza para Olosa – A Divindade das Águas Doces. Da mesma forma que sua contrapartida, somente age em companhia do Agbè. É o pássaro de penas vermelhas, símbolo de (Boas notícias).



Ø  LÉKELÉKE: É uma pena de cor branca, extraída da ave Bubulcus ibis conhecida popularmente por garça-vaqueira ou garça-boieira, nativa da África e do Sul da Europa, que invadiu a América do Norte no início do Século XX e atingiu o Brasil na década de1960. Descritos nos mitos como o pássaro que carregava a boa sorte e a riqueza para Òrìsà Nlá e toda a sua corte. Símbolo por excelência de todos os Òrìsà Funfun. É o pássaro de penas brancas, símbolo de (Paz).  

      
         Essas três cores se identificam com as cores do wàjí, osún e do efun – Pós e tinturas utilizadas nos ritos de iniciação e de passagem.

         Um fragmento do Texto Sagrado de Ifá:

Agbè ni i gbe're k'Olòkun,
Àlùkò ni i gbe're k'Olòsa,
Odíderé-Moba-Odo Omo Agbegbaaje-ka ni naa ni i gbe're k'Oluwoo.

O pássaro Agbè carrega a benção de Olòkun
O pássaro Àlùkò carrega a benção de Olòsa
O papagaio do Rio Mogba, descendência de um poderoso exército carrega uma cabaça com a fortuna para o Rei de Iwó.

         Os pássaros Agbè e Àkùkò são agentes intermediários entre o poder da imensidão das águas. Oluwoo é um título do Rei de Iwó a Legendária Cidade, reduto da ave Odíderé.

Ojúure l'Agbè fi í w'aró
Agbè won jí t'aró t'aró
Ojúure l'Àlùkò fi í w'osùn
Àlùkò won jí t'osùn t'osùn
Ojúure l'Lékeléke fi í w'efun
Lékeléke won jí re pel'efun.
O pássaro Agbè desperta com aró
O pássaro Agbè olha com bondade para aró
O pássaro Àlùkò desperta com osùn
O pássaro Àlùkò olha com bondade para osùn
O pássaro Lékeléke desperta com efun
O pássaro Lékeléke olha com bondade para efun.

Agbe ló l’aró, kìí rá’hùn aró
Àlùkò ló l’osùn, kìí rá’hùn osùn
Lékèélékèé ló l’efun, kìí rá’hùn efun.

O pássaro Agbè não se lamenta por muito tempo ao aró
O pássaro Àlùkò não se lamenta por muito tempo ao osùn
O pássaro Lékèélékèé não se lamenta por muito tempo ao efun.

         Neste fragmento dos Textos Sagrados de Ifá relata a ligação das aves Agbè, Àlùkò e Lékeléke com as pinturas sagradas aró, osùn e efun. Essa expressão “despertar” tem a conotação de “ao amanhecer de cada dia” as aves sagradas carregam em si o poder e a essência de três dos quatros Oba Odú primordiais da existência universal; Ogbè Méjì relacionado com o efun, Òyèkú Méjì e sua relação com o osùn e ligação de Ìwòri Méjì com o aró. O fato de não se “lamentar por muito tempo” está baseado em uma oferenda cujo quais os principais ingredientes são as penas e as pinturas citadas.

Ojúure lògbólógbòó Odíderé fi í w'Iwó
Ìkódíde àse kun be aràiyé.

O grande e velho papagaio olha com bondade para Iwó
O poder da pena Ìkódíde enche de suplicas os seres deste mundo.

         Como mencionado anteriormente Iwó é a Cidade Legendária reduto da ave Odíderé onde essa desempenhava a função de favorecer seu povo com as principais bênçãos e suplicas dos seres humanos:

Ire ajé – riqueza.
Ire oríre – boa sorte.
Ire owó – dinheiro.
Ire omo – filhos.
Ire ìmúarale – boa saúde.
Ire ìpéláyé – vida longa.
Ire obìnrin – mulher p/ser esposa.
Ire okonrin – homem p/ser marido.
Ire ìbùjókó – um lugar para morar.
Ire àláfíà – paz e contentamento.


  Pai Kiko tí Òsun .

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